sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"Poemas de Ingoma"

Lucas Carrasco*
1.
No tempo dos avós dos seus avós
tinha outras diversões pra meninada
Os negros que vieram dos escravos
criaram o Batuque de Umbigada
Um tambú, um quinjengue e uma matraca
repicam a quizomba no terreiro
O cantador de modas contra-ataca
e risca um verso à dor do batuqueiro
Tietê, Capivari, Piracicaba
Rio Claro, Itu, Campinas, Sorocaba
Por pouco esse Batuque não acaba...
Com fé em são Benedito, o pé no chão
Pra não perder o ritmo, a tradição
Batuca no repique o coração
2.
O rosário é o seguinte, viu, meu filho?
Senta junto da preta que eu te explico
Faz de conta que os dedos são o bico
da galinha ciscando atrás de milho
Junta um depois o outro e forma o trilho
do caminho pra reza a Benedito
3.
Seja bem-vindo à nossa brincadeira
A batucada aqui é bem modesta
O ritual começa na fogueira
O tambor é o senhor de toda a festa
4.
Os zóio do menino enxerga o fogo
Aprende dos segredos do tambor
Viaja pelo mar pra Angola e Congo
Na ponta da flecha de caçador
O povo se junta em volta da roda
Atiça a fogueira da tradição
Chega o menino e ouve tudo as moda
E canta e bate palma e treme o chão
Menino Dito chama para a luta
O povo se levanta pra dançá
São Benedito benze essa disputa
E o Batuque renasce no congá ___________________________________________
(*) Lucas Carrasco trabalha com projetos editoriais. Como autor, ganhou em 2006 o prêmio PAC,
da Sec. de Estado Cultura SP, com o livro infantil "Pindá, a Menina-Abelha - Realejos do Mar",
sobre cultura caiçara. Como editor, participou do songbook "PretoBrás", livro de partituras do
músico Itamar Assumpção, premiado pela APCA em 2007.

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