terça-feira, 9 de março de 2010

Arte africana na sala de aula

Mas antes temos que explicar aos nossos alunos que muitas das chamadas artes tradicionais da África estão sendo ainda trabalhadas, entalhadas e usadas dentro de contextos tradicionais. Mas, como em todos os períodos da arte, importantes inovações também têm sido assimiladas, havendo uma coexistência dos estilos e modos de expressão já estabelecidos com essas inovações que surgem. Nos últimos anos, com o desenvolvimento dos transportes e das comunicações dentro do continente, um grande número de formas de arte tem sido disseminado por entre as diversas culturas africanas.
Para começar:

Que tal propormos a nossos alunos uma leitura de imagem.

Arte de Suzanne Werger-Bosque Sagrado de Osun-Osogbo



Objetivo desta atividade:
Alem de conhecer artistas plasticos e escultores africanos, podemos trabalhar os elementos das artes visuais, da criação e da aproximação com a nossa cultura.

O tempo de duração:
Depende do professor,da metodologia e interesse dos alunos.

Avaliação:
Pode acontecer no decorrer da aula,a medida em que a atividade se desenvolve.

Eu adoro esta atividade.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Um pouco da minha história

Práticas do cotidiano

Realizei meu estágio curricular numa escola municipal na zona norte de Porto Alegre numa turma B 10 que corresponde a 3ª serie do 1º grau em 2007. E neste período, observei que as agressões verbais dirigidas aos alunos negros ainda da fazem parte do ambiente escolar. Digo ainda, pois as palavras que tanto me feriam a alma há trinta anos atrás desde meu jardim de infância são as mesmas que hoje ferem outras crianças. E me fez lembrar da minha infância naquela época, nos anos 70 quando uma criança negra e pobre, quando ofendida, não tinha a quem se queixar e simplesmente abandonava a escola como meu irmão fez por muitas vezes. Sempre fomos alvos fáceis de muitas piadas e agressões de colegas que lembravam sempre do meu nariz, das minhas tranças ou da cor da minha pele, e, principalmente falavam muito mal da nossa religião. Até as músicas depreciativas sobreviveram aos tempos.
E isto me fez lembrar o quanto foi difícil manter a minha auto estima num ambiente escolar tão desfavorável. Os conceitos belo-feio, pobre-rico, bom-ruim, melhor- pior são produzidos e padronizados diariamente e transmitidos pela família e sociedade que inconscientemente ou conscientemente , mas de forma cruel, alimentam a cultura colonial convencendo as crianças negras que seu cabelo é ruim , seu nariz é feio e esborrachado. Dessa forma a criança desenvolve uma baixa auto-estima, passando a não gostar de sua aparência pois Portela (2005, p. 95) afirma que a identidade da criança afro-descendente deve ser alicerçada quando ela ingressa na escola, isto é, desde a pré-escola, e isso ocorrerá quando a escola e educadores compreenderem que os alunos são indivíduos pertencentes a culturas diferentes, e que são diferentes, e principalmente, essas diferenças não devem ser hierarquizadas e que a compreensão e o respeito à diferença são condutas indispensáveis.
E para mim, hoje professora-estagiária ver aquelas cenas se repetindo na escola onde eu faria meu estágio e constatar que as crianças negras sendo alvo “brincadeiras” racistas me deixaram indignada, incomodada, e, porque não dizer revoltada. Indigna-me ver que outros professores, hoje meus colegas e funcionários da escola continuam encarando estas situações de preconceitos como fatos de pouca ou nenhuma importância. Colegas estes que não quiseram desenvolver atividades, para amenizar esta situação de violência social e psicológica contra a criança através de projetos sobre a cultura africana envolvendo as diversas áreas do conhecimento.
E a turma na qual trabalhei era composta por vinte e três alunos com idades entre nove e dez anos. A maioria eram crianças brancas. Era assustador o repertório racista desses meninos e meninas na hora da briga e xingavam os colegas de "carvão", "macaco", fazendo referência à cor da pele, ao cabelo e ao formato do nariz. Mesmo os alunos negros apelidavam seus iguais.
Então passei propor atividades para tratar o problema de forma lúdica e reflexiva de forma planejada, pois o aluno A., me procurou para falar sobre essa questão. Ele disse que estava muito chateado e que não queria mais vir às aulas por causa dos apelidos. As crianças o chamavam constantemente de macaco. Ele geralmente reagia de forma violenta, ficava arredio e nem queria participar das atividades. Depois se episódio, tive uma conversa séria com a turma e por uma semana os apelidos pararam, mas recomeçaram. Vale lembrar que o preconceito entre crianças tem um forte potencial destrutivo para as vítimas. As crianças podem se sentir segregadas, e ter seus potenciais reduzidos e sérios problemas de aprendizagem.
Também percebi que o pertencimento racial orientava a qualidade das relações de amizades que crianças cultivavam entre elas, como por exemplo, não sento com fulano, pois ele é preto e sujo. Esses apelidos sempre marcam a trajetória escolar e geralmente são as primeiras experiências de rejeição pública do corpo, pois neste sentido o cabelo crespo e a pele escura é símbolo de inferioridade.
Ao conversar com uma colega, professora-titular da turma sobre este episódio ela me respondeu:
“Sempre falo durante as aulas que não devemos nos preocupar com a cor da pele dos colegas, isso não tem importância porque somos todos iguais, fazemos parte da mesma história, da mesma comunidade”.Enfim -segundo a professora- não há diferença alguma entre o negro e o branco... Veja bem aqui na minha sala de aula eu acho que não faço diferenças, todos os meninos (as) negros e brancos são tratados, assim, da mesma maneira... Porém, nas outras turmas é comum, professores ou alunos, apelidarem os colegas negros, tem uma garota que estuda aqui pela manha que é chamada de Chica da Silva, por gostar de varrer a sala e cantar rap”. ( N ).

Após ouvir este relato da professora titular e observar a turma resolvi planejar uma seqüência de atividades em sala de aula tratando diretamente da questão das relações étnicas na sala de aula. Através de observações da turma durante o recreio, nos jogos e atividades que desenvolviam dentro e fora da sala de aula pude constatar a presença forte do preconceito que se manifestava nas brincadeiras no recreio, no refeitório na biblioteca, na hora da punição. Segundo Brandão (1995, p. 19), “é no cotidiano que nos tornamos observadores de nós mesmo e do próximo, isto vale dizer, “do outro”, “dos outros” e do mundo, portanto, do território”.
Tive a oportunidade durante a execução do projeto de estagio de trabalhar questões afros desconhecidas dos alunos como brincadeiras, jogos e arte. A partir de um levantamento de jogos, brinquedos,brincadeiras, danças, cantos e contos , propus atividades lúdicas com enfoque nas relações étnico-raciais que contribuíssem na formação de uma identidade cultural negra positiva. E registravamos todas as atividades em um caderno. Neste caderno de registro foram registrados um mapa do continente africano, questões a serem respondidas durante o andamento do trabalho tendo espaços para: desenhos (como forma de registro das lendas ou contos africanos apresentados), registros (das atividades aprendidas no dia) e avaliação do projeto. De acordo com Bogdan e Biklen (1994) diário de campo “é o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo” (p.150)..
Através destas atividades as crianças puderam conhecer a historia e os significados da pintura no corpo dos guerreiros africanos. Trabalharam na execução da tinta a moda africana com sementes de urucum diluído em álcool e misturada a cola tenaz o que dá o tom laranja .Trabalharam também com capim de jardim diluído no álcool misturada a farinha de trigo o que resultou no tom esverdeado. Depois utilizamos beterraba cozida misturada com cola. Propus ao grupo a então a técnica da pintura a dedo. No primeiro momento houve o estranhamento depois pintaram com dedo sem pincel de forma lúdica. O objetivo destas atividades foi para que as crianças conhecessem a influencia africana sobre a cultura brasileira .
Tínhamos uma vez por semana uma roda de conversa.Numa dessas vezes perguntei as crianças quais eram suas descendências e as repostas foram italiana ,polonesa ou alemã . Mas nenhuma criança disse ter descendência africana. Pude observar uma supervalorização do lado branco da família de todas as crianças, inclusive daquelas filhas de negros e brancos e, enquanto verbalizavam sua descendência européia, as crianças falavam “- que chique!”.
Em uma outra situação, umas das questões que coloquei para as crianças era saber o que representava a África para eles/as, sendo que nas respostas expressaram representar ser um local selvagem com florestas, animais e tribos, ou sendo uma cidade e/ou país como demomnstra os relatos abaixo:
“É um lugar enorme cheio de árvores e flores e com muitos animais que em alguns lugares estão extintos. Eu não sei direito se existem gente branca lá ” (M).
“Lá é muito muito feio,não tem agua , lá tem bastantes animais como girafa, leão, tigre, os animais de lá são curiosos eu adoro os animais, eu queria ir pra lá algum dia” ( A.).
“Parece que lá as mulheres não usam sutiã”(B.)
As respostas que obtive estavam associadas à miséria, generalizações negativas
cristalizadas no imaginário da criança, como:
“Pra mim África é um lugar onde as pessoas que não tem condições para comprar só um remédio e precisam de ajuda”” (C.)
“Um país pobre, onde se passa fome. É um povo feio ” (I.).
Observei nas respostas dadas que as crianças possuíam uma concepção da África presa ao lado exótico, turístico, ou associado à miséria, doenças, que são conteúdos veiculados pela televisão através de telejornais e filmes “hollywodianos”. também, havia uma outra questão a ser respondida pelas crianças juntamente com seus pais, mães ou responsáveis, que perguntava: Qual a contribuição dos africanos na cultura brasileira? Nesta obtive respostas como:
“Contribuição cultural (danças, roupas, religião, músicas) eles foram mão de obra
para diversos trabalhos, , foram vítimas da escravidão e preconceito”.
“Os africanos contribuíram com os costumes, culturas, crenças e influencia na raça
da maioria dos brasileiros, descendentes de africanos”.
“Comida ,, dança, religião, “
“Não contribuíram com nada foram só escravos”.
A partir do diálogo com a família, uma aluna branca se descobriu descendente de africano e veio muito contente contar para turma que descobriu com sua mãe: “- professora nesse final de semana fazendo o tema com minha mãe descobri que também sou descendente de africano, ela me disse que somos descendentes de africano por parte do pai dela, meu avô”.
Nas questões finais, foi perguntado o que mais eles tinham gostado do projeto, e as respostas foram todas (sem exceção) positivas e bem diversificadas, as atividades mais citadas foram: as brincadeiras de modo geral, e mais enfaticamente os jogos. Também foi bastante citado o filme Kiriku e a feiticeira, a atividade de colorir o mapa do continente africano e um conto folclórico africano trabalhado na intervenção, conforme seguem alguns exemplos:
“Eu gostei de tudo, mas o que eu mais gostei, foi aprender o que é África. (M.I).
“As coisas que mais gostei foi das brincadeiras, do mapa que pintamos, e ainda até
uma história, pois eu pensava que África era uma cidade só que ela é um continente”.
“Eu gostei das brincadeiras, gostei das conversas, da roda de capoeira no recreio,,
gostei dos instrumentos africanos que o professor levou” (B ).
“Eu gostei das brincadeiras,, gostei também da história da África que a professora contou para a gente desenhar e gostei do filme e gostei de tudo” ( J).
Através destas respostas, percebi que o projeto obteve uma boa aceitação, sendo prazeroso e educativo. Quanto à questão sobre o que menos gostaram, as crianças apontaram algumas brincadeiras e/ou atividades, mas observamos que suas escolhas se pautaram em seu insucesso pessoal.
“Na hora que cai” (G.).
“Não gostei do mbde-mbde , porque não peguei nenhuma” (A.).
“Não tem nada que eu não gostei, eu adorei tudo. Cada dia eu ficava empolgado e
curioso para saber as brincadeiras que ele ia dar” (F.).
Ao final do projeto, refiz a pergunta realizada no início do mesmo, nesta percebi mudanças em relação às respostas anteriores, ocorrendo visão mais positiva da África. Observamos, no entanto, que algumas crianças não conseguiram se desprender do pensamento de que a África é uma cidade ou um país.
“Eu achava que África era um pais com muita pobreza e agora eu sei não tem só pobreza. Tem muitas coisas bonitas e legais que a gente se diverte muito.
Como as brincadeiras da África”. (G.)
“É um lugar lindo maravilhoso, tem bastante cultura beleza, danças, animais, lugares interessantes casas restaurantes, bares, shopping. Eu aprendi algumas brincadeiras de lá. É um continente, tem bastante coisas lá. Lá tem lenda,como aquela da menina que se chamava “Dandara a menina que trabalhava muito. Eu aprendi bastante brincadeiras como o mbude e tem um instrumento bem legal o caxixi. Lá na África não existem só negros, existe também brancos.(F).
Analisando a fala desta criança percebi que passaram a ver beleza na África e capacidade no seu povo rompendo o estereotipo do negro africano dócil sendo escravizado.
E ao incorporar o discurso da diferença através de um projeto que enriqueceu as minhas práticas e as relações entre as crianças, possibilitou, o enfrentamento de praticas de racismo, e a construção de posturas mais abertas às diferenças étnicas presentes na sala de aula.
Após estas atividades, pude refletir sobre o papel importante que o professor representa na sala de aula. Acredito que cabe também ao professor não reproduzir as idéias negativas sobre a etnia negra, perceber e combater as manifestações racistas no ambiente escolar utilizando instrumentos da própria cultura popular, e com políticas culturais de valorização do que vem da cultura negra, que ajudou a construir este país. É daí, é a partir dessas raízes que nós professores podemos dar inicio a aproximação real das diferenças, e não aproximação estereotipada no livro didático. E penso que a primeira atitude do professor frente ao conteúdo dos livros didáticos e paradidáticos deve ser a de identificar a sua ideologia, com o fim de se posicionar a favor ou contra. No que diz respeito às ideologias racistas, o posicionamento deve ser contrário a estas. Caso não seja identificada e refletida, a ideologia racista será perpetuada. Acredito também que cabe ao educador, eleger materiais que contemplem a diversidade étnico-racial da escola, bem como de nossa sociedade e, nessa tarefa, não escolher os que reforçam imagens preconceituosas, discriminatórias e depreciativas, mas sim, os que: apresentem ilustrações positivas de personagens negras; cujos conteúdos remetam ao universo cultural africano e afro-brasileiro; possibilitem aos leitores o acesso a obras onde habitem reis e rainhas negras, deuses africanos, bem como os mitos afro-brasileiros; cujas tessituras realizadas durante a leitura possam construir a elevação da auto-estima das crianças negras; representem sem estereótipos a população negra brasileira (SOUSA, 2006).

Atividades livres para patio

Atividades no pátio

Mbube, Mbube (ou O Leão e o Impala)

Imbube é um dos termos do povo zulu para designar o leão, um dos predadores do impala. O jogo é um tipo de pega-pegaBRINCADEIRAS DE QUADRA

Regras

Todos os jogadores formam um círculo. Dois começam a brincadeira: um será o leão; o outro, o impala. O leão deve caçar o impala em um minuto, ziguezagueando entre os outros jogadores, enquanto esses gritam mbube, mbube. Se o predador não conseguir pegar sua presa no tempo determinado, será eliminado e se incorpora ao círculo dos companheiros. O grupo elege um novo leão. Se o leão pega o impala, se escolhe um outro para ser o fugitivo.
Na mamba, a importância do trabalho em equipe
A mamba é um tipo de serpente africana da África austral. Existem espécies verdes e negras e ambas são venenosas. A brincadeira é um tipo diferente de pega-pega.

Regras

Uma pessoa é escolhida para ser a mamba, que vai ser o pegador. O professor desenha no chão um quadrado de 10 metros x 10 metros (tamanho ideal para 20 crianças). Durante a brincadeira, todos os participantes devem permanecer dentro dessa demarcação, mas tentando escapar da serpente. A um sinal, o jogo começa. A mamba tenta pegar os jogadores. Quando um é pego pela serpente, deve posicionar-se atrás da mamba, segurando-a pela cintura ou pelos ombros. Cada participante que é tocado pela mamba se junta ao último do "corpo" da serpente. Dessa forma ela vai ficando cada vez mais comprida. Se um jogador sai do quadrado, deve ser eliminado do jogo. Só a criança que é a cabeça da serpente pode capturar os jogadores, mas o "corpo" da fileira que se formou deve ser usado para interceptar ou atrapalhar os fugitivos. Os jogadores não podem cruzar o corpo da serpente. A brincadeira acaba quando restar apenas um jogador sem ser pego. E recomeça com esse sendo a mamba.

JOGOS DE TABULEIRO

Yote
Esse jogo da África Ocidental tem diferentes nomes de acordo com a região do continente em que é praticado. Atualmente é um dos mais populares do Senegal e suas regras lembram o jogo de damas.

Material

1 tabuleiro quadriculado com 30 casas (6x5)
1 dado
24 peões (12 de cada tipo - podem ser usadas sementes ou pedras)
Número de jogadores
Dois

Objetivo

Eliminar os peões do adversário

Regras

A partida começa com o tabuleiro vazio. Os participantes recebem 12 peões cada. Joga-se o dado para indicar quem inicia o jogo. Cada jogador pode colocar um peão em uma casa livre ou deslocar suas peças para uma casa vazia, horizontal ou verticalmente. Para capturar um peão adversário, é preciso saltar sobre ele, também na horizontal ou na vertical. A cada peão tomado o jogador pode retirar um outro do tabuleiro. Captura-se então dois peões a cada tomada. Ganha quem no final tiver mais peões do adversário.

segunda-feira, 1 de março de 2010

RELIGIÃO TRADICIONAL AFRICANA E A SOCIEDADE


Escrito por Ifatola

“Exclusão definitivamente da visão de uma inferioridade espiritual assumida de povos africanos por uma reavaliação de uma tradição dinâmica viva”.

Durante séculos, as religiões tradicionais africanas foram submetidas à mesma informação falsa, subavaliação e estigmatização básicas que foram reservadas e continuam sendo reservadas para as sociedades, culturas da África em geral. Esta estigmatização implica em um processo estruturado que ocorre a vários níveis.

Os primeiros e o mais evidentes desses níveis implicam a espécie de representações comuns da África, que são baseadas no assim, chamado sentido comum' de países ocidentais, isto é, aqueles conteúdos cognitivos que são provocados a falar, 'automaticamente', cada vez que uma pessoa é citada a falar, ou uma pergunta dada é feita.

Nesse caso, dizendo da África, uma imagem de um país belo e exótico com a sua natureza e paisagens não manchadas mas 'inevitavelmente' sofrendo com catástrofes naturais e humanas: as inundações, a fome, as guerras, os golpes, etc. que Africanos não seriam capazes de dominar, são facilmente evocadas.

Esta representação que era repetidamente dirigida às Sociedades Africanas e que será tomado em cima novamente na seguinte questão tem origens remotas e é constantemente reforçada e assim para falar, atualizada pela convergência dos mecanismos específicos aos meios de comunicação de massa e a falta do profissionalismo de muitos operadores de meios de comunicação que estão sempre na expectativa de estereótipos fáceis e convenientes bem como por estratégias geopolíticas a um nível transnacional, e pela conduta diária de professores, políticos, pesquisadores, conferencistas de universidade, ensaístas, pessoas religiosas, agências turísticas e até de vez em quando ONG de solidariedade e muitos outros atores que muitas vezes involuntariamente contribuíram para promoção de uma imagem da África como um país perpetuamente na preocupação e incapaz de dar-se sem ajuda externa.



A representação da África como um país destituído da sua própria dimensão espiritual profunda ou de uma religião digna do seu nome vai concluir, e até certo ponto justificar, este quadro feito de generalizações infundadas e alterado ou omitiu a informação; um quadro que descreve um continente cujos habitantes e as comunidades - pela maior parte considerada ser rural seria entrelaçado em um entrançado inextricável de ritos ancestrais muitas vezes cruéis e sangrentos, superstição, crenças absurdas e infantis e medos atávicos que bloqueiam as suas capacidades pessoais, iniciativa e possibilidades de desenvolvimento.



Outro nível a qual ocorre uma verdadeira estigmatização na África, especialmente quanto à sua tradição espiritual, é aquela da pesquisa científica, especificamente com referência a ciências humanas e sociais. A história da pesquisa em povos africanos como Brasil Davidson, entre outros, manifestou-se é de fato predominante com incompreensão, erros teóricos e metodológicos, e interpretações conseguidas e inertes que mpreenderam formas diferentes.

Um de esses é o Evolucionismo, que define religiões tradicionais africanas como a etapa "mais primitiva"da evolução espiritual dos povos, apresentando práticas que ele denomina ironicamente como "animista”, "'fetichista", "pagã", "totêmica", "idolátrica", etc. Isto sem considerar até a asneira clamorosa pelo qual os Africanos foram considerados durante séculos serem politeístas, enquanto na realidade se considera que os espíritos ou outras entidades às quais as suas religiões se referem atuam como intermediários entre um Deus supremo.

Tal aproximação interpretativa implica numa visão mono disciplinar, neste caso o exclusivo, e, além disso, muitas vezes puramente descritivo, o uso de etnologia e antropologia cultural. Isto resultou em fenômenos religiosos africanos, muitas vezes sidos trancados atrás de uma espécie de jaula de interpretação e examinados como se eles existissem em um vazio histórico ou, na melhor das hipóteses, como sinal da espiritualidade que, embora "autêntico", se limita a sobreviver cansadamente no mundo de hoje.

Além do mais, sempre houve uma tendência comum de interpretar e avaliar religiões tradicionais africanas que começam “de um local” específico, ou de práticas, que então são generalizadas sem uma razão válida. Este é o caso com certos ritos mágicos que, incidentemente, muitas das tais religiões são opostas as de figuras como os dos fetiches. Algo que ninguém sonharia da realização com outras religiões; ninguém, por exemplo, definiria a essência da cristandade pelas práticas devotas excessivas, em direção a um dado santo encontrado em áreas rurais ou sem embargo, isto é o que aconteceu, e continua acontecendo, quanto a religiões tradicionais africanas.

Por isso, a pergunta tem de ser feita quanto a se não devemos restabelecer alguns critérios de interpretação básicos, definidos e compartilhados de religiões tradicionais africanas, para se recuperar, portanto falar, de sua “dignidade moral”. O processo da reinterpretação de religiões tradicionais africanas começou como reclamações de Ejizu, há aproximadamente sessenta anos embora infelizmente demasiadas tarde para inverter o processo enraizado de estigmatização, tenhamos mencionado quando os primeiros trabalhos de uma geração de escritores africanos e eruditos, como Danquah, seguido por Boulaga, Ela, Mbiti e outros.

É com bons olhos que se vê a abundância de estudos de Web sites atualmente, dedicado aos estudos das religiões Tradicionais Africanas.

Neste sentido, uma fenomenologia inteira existe, pela maior parte encontrada em ambientes urbanos, por uma até maior consciência cultural e por uma busca de uma verdadeira identidade culto religiosa e também de alguma forma, por"restaurar" não somente a moral, mas também a dignidade interpretativa das religiões Tradicionais Africanas.

Texto traduzido e adptado por Ifatolà

Na terra dos crentes, o diabo tem nome africano


Por James Mytho.

Este é um artigo sobre Na terra dos crentes, o diabo tem nome africano.

Objetivos do artigo:


Mostrar como houve a construção do mito do diabo cristão e sua associação com os orixás;
Mostrar a ojeriza que várias igrejas cristãs têm pela religiosidade africana;
Mostrar o racismo que está por detrás disso;
Mostrar o quão intolerante ainda é o cristianismo.
OBS: O termo “crente”, neste contexto, refere-se aos religiosos em geral, e não apenas aos evangélicos.

“Houve, com o decorrer dos séculos, um sincretismo religioso, ou seja, uma mistura curiosa e diabólica de mitologia africana, indígena brasileira, espiritismo e cristianismo, que criou ou favoreceu o desenvolvimento de cultos fetichistas como a umbanda, a quimbanda e o candomblé”. (Orixás, Caboclos & Guias – deuses ou demônios ?, 15° edição, cap. 1, pág. 13) No livro “Orixás, Caboclos e Guias – deuses ou demônios ?”, Edir Macedo expõe a sua visão, e a de muitos cristãos, sobre o que representam as religiões afro-brasileiras em nossa sociedade. Mas, engana-se quem pensa que foi Edir Macedo o primeiro a demonizar essas religiões. Diversos outros pregadores, protestantes e católicos, já travaram lutas contra as “forças das trevas”.

Os cristãos, e em especial os evangélicos, geralmente, reivindicam para si a exclusividade da “comunhão com Deus”, desconsiderando os ensinamentos das outras religiões e filosofias. Contudo, o curioso é que o “diabo” nunca tem um nome grego, romano, escandinavo ou mesmo árabe ou chinês. É quase sempre um nome africano a designação dos espíritos das “trevas”. E este “diabo” é idealizado com as histórias mitológicas africanas, simbolizado com elementos litúrgicos africanos, e personificado em figuras místicas e antropomórficas também africanas.

Os deuses gregos não representam perigo algum aos ditos “cristãos”: “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido ?” (1 Coríntios 1: 12,13) Mas, as divindades africanas são uma “ameça”: “Para evitar atritos com a Igreja Católica, os escravos que praticavam a macumba, inspirados pelas próprias entidades demoníacas, passaram a relacionar os nomes dos seus deuses ou, para ficar mais claro, demônios, com os santos da Igreja Católica. Assim, podiam escapar à grande perseguição que a própria Igreja Católica moveu contra eles (...)” (Orixás, Caboclos & Guias – deuses ou demônios?, 15° edição, cap. 5, pág. 44). Apolo: referência bíblica em 1 Coríntios 1: 12,13.


Culto a Iemanjá: algo “demoníaco” para muitos cristãos.
É certo que há uma rivalidade entre evangélicos, umbandistas e candomblecistas. Esta rivalidade é fomentada pelas pregações proselitistas de boa parte dos evangélicos. Os evangélicos, em especial os pentecostais, parecem ter elegido as religiões afro- brasileiras como seus principais adversários. Algumas igrejas pentecostais parecem ter isso como meta prioritária, não se cansando de “combater” aquilo que consideram como o “culto aos demônios”.

Os pentecostais usam de todas as formas possíveis para reprimir os cultos afro usando, inclusive, de preconceitos mesquinhos. Os mesmos preconceitos que, num passado recente, também eram vítimas. É que os pentecostais têm o seu projeto de poder (tal como a Igreja Católica no passado), e para validá-lo precisam eliminar qualquer adversário. E como eles não se acham fortes o suficiente para enfrentar a Igreja Católica, destinam toda a sua intolerância sobre a umbanda, o candomblé, etc... Contudo, não podemos deixar de falar da repressão religiosa empreendida pela Igreja Católica no Brasil até o início do século 20.


A construção do mito.
O diabo, na concepção cristã, é o ser espiritual que representaria o mal absoluto. Ele seria a origem de todas as desgraças existentes no mundo. O diabo também poderia ser compreendido como a antítese de cristo (ou o próprio anti-cristo). De qualquer forma, sua estratégia seria corromper a humanidade seduzindo os seres humanos de todas as formas possíveis. Portanto, teríamos uma espécie de “’batalha espiritual”, numa perspectiva mais fundamentalista. Por conseguinte, o cristão autêntico deveria combater o maligno de todas as formas, bem como não ceder às possíveis tentações. A idéia de um diabo, como um ser espiritual (ou transcendental), não é exclusividade do cristianismo. Contudo, esta religião moldou de uma forma bem peculiar esse “diabo”.

O diabo cristão não só tem formas antropomórficas, mas desejos, sentimentos, atitudes, e até ideais. Para justificar os possíveis intentos do demo, criam-se mitos, propagam-se lendas, e consolidam-se superstições. E este diabo cristão foi elaborado a partir das características dos deuses pagãos do “Velho Mundo”. Nas antigas religiões, os deuses tinham os seus mitos, e a sua justificativa social. Na mitologia grega, por exemplo, Hades era o deus do mundo subterrâneo, lugar onde todas as almas, as “boas” e as “ruins”, teriam o seu derradeiro destino.

Na Terra de Hades, havia um lugar chamado de “Campos Elíseos” para onde iriam as almas “boas”, era o caso heróis, dos adoradores mais dedicados, dos seres tidos como “mais evoluídos”. Mas, havia outro lugar chamado “Tártaro” para onde iriam as almas “ruins”. O Tártaro era semelhante ao inferno cristão, um lugar, portanto, de trevas, medo e sofrimento eterno.

Nas antigas religiões da Pérsia, Egito e Índia também havia a crença na imortalidade da alma, bem como um lugar reservado para os considerados pecadores. Entre os povos do norte da Europa (rotulados pelos romanos como “bárbaros”), a crença na reencarnação era mais comum. Todos estes povos tinham suas próprias representações iconográficas (imagens) acerca de suas divindades. Eram construídas estátuas e monumentos, quadros eram pintados, e ambientes eram decorados com motivos religiosos para o culto aos deuses antigos. Estes deuses podiam ser representados com uma imagem humana ou de algum animal dito especial.

Alguns dos deuses antigos tinham uma representação bem peculiar, tais como Cernunnos, o deus cornífero. Cernunnos tinha cifres em sua forma humanóide, e podia ter também a forma de um touro (ou algum animal forte e portador de chifres). Ele era um deus do panteão celta (povo europeu antigo), considerado como protetor e senhor das florestas.

Com o crescimento do cristianismo, os cristãos, outrora perseguidos, passaram a ser os perseguidores. Para justificarem os seus preconceitos, começam a demonizar os deuses das antigas religiões pagãs. Pouco a pouco, o diabo passou a ser vinculado aos antigos deuses. O diabo, antes um ser sem forma definida, passa a ter uma forma física, a saber: pés de animal, asas de morcego, rabo de boi, garras afiadas, enormes dentes, olhos grandes e ameaçadores, chifres, e uma cor quase sempre avermelhada, amarronzada, ou enegrecida.

O diabo também ganha alguns objetos de “ofício”, tais como o tridente, tumbas, caveiras, um cetro fálico, dentre outras coisas. Além disso, poderia ser representado numa carruagem de fogo puxada por bestas feras. Com o tempo, cresce a crença de que o diabo era o “senhor” da noite, dos prazeres “carnais”, e da morte.

É interessante dizer, portanto, que a imagem do diabo foi elaborada a partir dos elementos representativos de vários deuses ditos pagãos. Nada foi original, pelo contrário, o diabo enquanto ser mitológico cristão é um plagio de uma coleção de mitos, símbolos, e superstições dos povos da Antiguidade.

O entendimento do mito.
Ora, no “Novo Mundo” não seria diferente, pois o diabo cristão também adotou as feições dos deuses das religiões nativas antagônicas ao cristianismo. A principio, foram os deuses indígenas os primeiros a serem demonizados, tais como Anhangá (ou Anhangüera), um deus do panteão tupi-guarani, erroneamente identificado como um “espírito malfazejo”. Com a entrada maciça dos povos africanos, em substituição a mão de obra escrava indígena a partir do século XVII, foi a vez dos deuses africanos serem renegados.

Os europeus, em sua maioria, viam os povos primitivos (indígenas e africanos), como seres “inferiores”. Contudo, alguns europeus não se demoraram a tentar disseminar a sua religião, e conseqüentemente a sua cultura, entre os povos nativos. Ora, qualquer forma de discriminação se torna completa quando o discriminado adere à ideologia do colonizador. Não foi uma atividade missionária ingênua e desinteressada que introduziu o cristianismo (em especial, o catolicismo) em nosso continente. Mas, sim o poder das armas bélicas, e uma descaracterização cultural dos povos dominados, com um posterior processo de aculturação e dominação sócio-econômica.


Houve um processo de sincretismo religioso no Brasil, e em outras partes da América Latina. Mas, limitando-nos ao contexto brasileiro, podemos dizer que os negros africanos foram forçados a camuflarem as suas práticas religiosas para evitarem maiores hostilidades. Com isso, os orixás passaram a ser associados aos deuses católicos. O problema não é o sincretismo em si, pois é possível que duas religiões se complementem, tal como acontece com o xintoísmo e o budismo, no Japão. A questão é que a igreja católica sempre discriminou as religiões africanas, sempre as demonizou, de tal forma que não é coerente afirma-se, ao mesmo tempo, afro religioso e católico, pelo menos enquanto a igreja não rever seus conceitos.

Da mesma forma como várias entidades indígenas foram demonizadas, os orixás africanos também foram alvos de um estigma, e que foi imposto não por simples ignorância ou fundamentalismo religioso. Houve um processo de desumanização dos povos africanos que foram escravizados. Os europeus acharam que deveriam “civilizar” os povos nativos, mas, claro, impondo a eles a sua própria visão de mundo. O problema é que esta visão de mundo só agravou a discriminação, pois introjetou nos povos ditos primitivos um auto preconceito. Estes povos passaram a se ver como “pecadores”, destituídos de uma “graça” divina, e em casos extremos como “sujos” e dignos de uma punição.

A independência do Brasil não representou uma autonomia cultural e ideológica, pois as elites dirigentes se viam como uma extensão – uma filial da metrópole, digamos assim - dos antigos colonizadores, vendo-os como um modelo a ser seguido. Logo, a estrutura social continuou a mesma, e conseqüentemente a escravidão. Com o tempo, o povo passou a elaborar os seus princípios e a codificar os seus valores morais e sócio-culturais tendo por base o ponto de vista europeu. Isto em si não é de todo ruim, pois de fato os europeus fazem parte da composição étnica de nosso país. Porém, esta aculturação se deu num processo opressor e penoso para muitos brasileiros.

Exú: de orixá mensageiro a diabo cristão.
Segundo especialistas no assunto, dentre os vários orixás cultuados pelo povo nagô, aproximadamente, cinqüenta se consolidaram no Brasil. Convém destacar que a crença nos orixás é específica das populações nagô, que compartilhavam da mitologia iorubá. Havia etnias africanas com outras cosmovisões, inclusive alguns muçulmanos, estes, porém, em quantidade bem reduzida. Contudo, os orixás são as deidades africanas mais populares no Brasil.

Dentre os orixás mais incompreendidos está Exú (também conhecido como Legbá ou Elegbara entre outros nomes). Este orixá foi erroneamente associado ao diabo cristão ou Satanás. Tal equívoco foi fruto de uma incompreensão dos religiosos cristãos quando descobriram a religiosidade dos povos da África Ocidental.

Exu é o orixá mensageiro entre o orun (mundo espiritual) e o aiye (mundo material), e que era encarregado de levar as oferendas para os outros orixás, e trazer aos fiéis os recados deles. Exú também tinha a função de proteger os fiéis contra possíveis infortúnios. De acordo com o que se conhece da mitologia ioruba, Exú era um ser brincalhão, irreverente e astuto. Além disso, era o deus da fertilidade, o que lhe conferia uma certa sensualidade. Podemos traçar um paralelo entre Exú e o deus grego Hermes.

Hermes era um dos deuses do Olimpo, filho de Zeus e irmão de Apolo. Hermes tinha como uma de suas atribuições conduzir as almas até o rio Aqueronte (ou Estige, em algumas versões), lugar onde se encontrariam com o barqueiro Caronte para, então, as almas serem conduzidas ao reino de Hades. Portanto, Hermes era um deus mensageiro que mostrava o caminho entre o mundo material e o mundo espiritual, podia inclusive transitar entre os dois mundos. Exú, por sua vez, promovia o intercâmbio entre os dois mundos (apesar de não conduzir almas ao mundo dito subterrâneo). Exú não tinha qualquer ligação mitológica com lugares ”infernais”. Contudo, o deus grego é encarado como uma mera mitologia escolar, enquanto Exú ainda é visto como um “demônio”. Outra associação é possível: entre Exú e o deus grego Príapo.

Príapo era o deus da fertilidade, sendo representado por um falo humano. Segundo a mitologia, Príapo era filho de Dionísio e Afrodite (na versão mais aceita), e foi alvo dos ciúmes de Hera (uma deusa que não admitia que Afrodite fosse mais admirada do que ela). Hera fez com que Príapo nascesse com uma deformidade: um falo muito grande e desproporcional ao corpo. Exú, por sua vez, também era deus da fertilidade, e apesar das diferenças mitológicas, tinha uma representação fálica. Tal representação em si não é maligna nem benigna, sendo adotada, inclusive, por outras culturas. Logo, a possível conotação sexual de Exú não o torna indigno.


A libertação do mito.
Atualmente, vemos pregadores evocando os orixás em cultos exorcistas como se estivessem evocando o próprio Satanás. Pessoas em transe psicótico embravejam dizeres que teriam como autores “entidades” como Exu, Oxossi, Olorun, etc... Milhões de pessoas ainda acreditam que as religiões afro-brasileiras são religiões “satânicas”, e que devem as suas precariedades e sofrimentos às suas origens africanas. No aurora do século XXI, assistimos ao recrudescimento do preconceito em relação a religiosidade africana. Isto é, um grande aumento, e com uma aversão que é desproporcional a capacidade de defesa dos praticantes afro-brasileiros.

A aversão às religiões de matriz afro extrapola as barreiras religiosas porque ela está impregnada do racismo contra as populações africanas. Esta aversão é o resultado dos mais de 300 anos de escravidão, e de um processo de aculturação que fez com que os brasileiros elaborassem seus princípios e valores tendo como modelo o que era mais aceito pelos antigos colonizadores europeus. Logo, para ser aceito era necessário se parecer com os europeus, viver como os europeus, e crer nos deuses europeus. Não podemos entender o sincretismo religioso como uma mera camuflagem. Mas, também, e principalmente, como uma tentativa de fuga de uma possível opressão perpetrada pela sociedade. É o medo da reprovação social que faz com que as pessoas se digam católicas “não-praticantes”.

Foi a instituição religiosa Igreja Católica Apostólica Romana quem primeiro demonizou as crenças nativas africanas. E, atualmente, são as igrejas pentecostais as que mais se dedicam ao combate às religiões afro. Existem religiões pentecostais que têm na completa eliminação dos cultos afro um ideal a ser seguido. Evidentemente, isto não é uma generalização, pois há cristãos evangélicos tolerantes e sem preconceito. Contudo, é inegável que para muitos evangélicos o “diabo” tem nome africano. O curioso é que nas religiões pentecostais há grande percentual de afro-descendentes (pardos e negros), o que revela que a aversão aos orixás também extrapola as barreiras de classificação “racial”.

O futuro para as religiões afro-brasileiras parece ser incerto. Há algumas iniciativas de valorização e autodefesa, porém nada que seja um consenso entre os seguidores dessas religiões. Diante de uma perspectiva de futuro não muito animadora, o que poderia ser feito para acabar com um estigma secular ?

Penso que a melhor resposta só pode ser dada pelos praticantes dessas religiões, e que deveriam ser os principais interessados na valorização de sua religiosidade. No entanto, poderia tecer algumas considerações pessoais.


Entendo que as religiões afro-brasileiras, em especial o candomblé, deveriam passar por uma ampla reformulação de suas liturgias. Eles deveriam fazer um resgate da cosmovisão africana original, fazendo as devidas adaptações à sociedade atual (quem se prestaria melhor a este papel seria o Candomblé, pois a Umbanda já nasceu sincrética). Eles deveriam também adotar uma nova linguagem, tornando o seu culto mais compreensível – e simpático - para um público mais amplo e secular. Além disso, dar uma nova roupagem ao culto afro, tirando-lhe o seu aspecto tribal, e dando-lhe uma feição mais moderna. Os seguidores deveriam perder a vergonha da religião, assumindo- a integralmente (obviamente, sem perder o bom senso). São mudanças simples, mas altamente eficazes.

Os pentecostais até os anos 70 eram uma pequena minoria, e alvo de estigma e desvalorização. Hoje, os pentecostais são o segundo agrupamento religioso do país, obtendo um crescente poder político. Isto poderia acontecer com as religiões afro-brasileiras ? Só os praticantes dessas religiões poderão dizer...


Referências bibliográficas:

Prandi, Reginaldo. “Exú, de mensageiro a diabo – sincretismo católico e

demonização do orixá Exú”. São Paulo, Revista USP, 2001.

Prandi, Reginaldo. “As religiões afro-brasileiras e seus seguidores”. Rio Grande

do Sul, Revista Civitas, 2003.

Macedo, Edir. “Orixás, Caboclos &Guias – Deuses ou demônios”. 15° edição. Rio

de Janeiro, Universal Produções, 2004.

“O exorcismo é a atração da noite”. São Paulo, Revista Época, 2003.

Ministério Apologético Cristão – www.cacp.org.br

Wikipedia – www.pt.wikipedia.org

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